Nem tudo começa aqui e nem tudo acaba aqui

Uma viagem conduzida por:

domingo, maio 24, 2009

A Linguagem do Tempo


O Tempo tem a sua própria linguagem... As palavras do Tempo são portas escondidas atrás de imagens que se renovam de cada vez que o coração bate em oração a um deus longínquo e incomunicável... A voz do Tempo morre na carapaça blindada dos dias, pese embora a infâmia dos segredos dos homens seja absolutamente ineficaz em calar-lhe o eco.

sexta-feira, maio 22, 2009

[ O Jardim Proibido ]


" Para lá daquelas montanhas antigas
que ninguém conhece...
Ficam os caminhos solitários
que o destino tece..."

segunda-feira, maio 18, 2009

Nunca


Recordas-te dos caminhos que nunca fizemos, das palavras que nunca dissemos e dos beijos que nunca trocámos?
Sim, também a mim me acompanham nos dias que nunca vivi.

domingo, maio 17, 2009

[ Algures no Centro do Mundo ]

" São os teus Caminhos de fé maiores que os meus?
Que sabes tu dos meus pensamentos quando penso em ti mesmo depois de te dizer adeus?
Saberás adivinhar o que sinto quando as minhas mãos tocam as tuas quando na noite escura sigo na estrada contigo a meu lado?
Eu quero caminhar a teu lado e nunca dizer-te adeus... quero ser o teu peregrino...
Pudesse eu guardar-te na memória das palavras escritas pelos profetas... "

sábado, maio 16, 2009

Os Amuletos


Haviam chegado encaixotados num dia como outro qualquer. Vinham de longe, de muito longe. Acumulavam nas suas feições a maturidade dos séculos e a sabedoria da felicidade. Eram demasiado perfeitos ou quem sabe excessivamente belos... a verdade é que a mínima oscilação da viagem fora suficiente para os danificar aqui ou ali. Relegados para as traseiras do templo em breve recebiam mais visitantes que os seu incólumes irmãos. É claro que há sempre alguém para quem a imperfeição será sempre perversamente mais sedutora do que a perfeição.

sexta-feira, maio 15, 2009

[ O Reencontro ]


Na miragem eu reconheci-te
Falei às pedras o teu Nome
Procurei-te dia e noite
Às estrelas perguntei o teu caminho...

E ao Luar, naquela noite fria
Reconheci quem procurei
Eu do meu reino me despedi
És para mim a noite e o dia...

terça-feira, maio 12, 2009

Bom dia


Arrumara as suas coisas antes do nascer do dia. Quando estivesse longe enviaria uma mensagem aos colegas desculpando-se pela partida súbita. Na realidade não sabia se não partira já e se tudo isto não era já apenas uma recordação. O seu coração queria ficar, mas a mente ordenava a partida. A mulher e o filho não o esperavam tão cedo, mas se não partisse agora talvez jamais regressasse. Ao sair do edifício levantou a gola do casaco e brincou com a nuvem desenhada pelo bafo da sua respiração. No percurso entre a casa grande e o carro ficou paralisado pelo surgir duma silhueta já familiar ao dobrar a esquina. Era ela! Mais uma vez ela. Olhou-o nos olhos e disse "Bom dia." Era a terceira saudação que trocavam ...e a última. O homem correu para o carro e partiu sem demora. Não se tornariam a ver. Anos mais tarde, quando voltasse àquela mesma quinta para ainda uma outra reunião, perguntaria ao caseiro do modo mais casual que lhe fosse possível por uma funcionária muito simpática com a qual se cruzara tantos anos antes... O velho caseiro levantaria um pouco a boina e coçaria a testa, acenando negativamente a cabeça. Não se lembrava de ninguém com tal descrição e estava ali ao serviço desde sempre. Cismado seguiria o seu caminho pela quinta e nessa mesma noite, enquanto falava ao telemóvel com o filho, agora um universitário, procuraria o silêncio duma sala reservada da casa grande, deparando com um retrato familiar onde reconheceria um amistoso rosto feminino gasto pelos séculos e pela memória...

segunda-feira, maio 11, 2009

Boa noite


Depois do jantar procurou o refúgio da lagoa. Precisava de respirar e colocar as ideias e os pensamentos tumultuosos no seu lugar. Como que por um passe de magia a gravidade dos assuntos que o haviam trazido àquela reunião parecia ter-se desvanecido completamente, tal qual a neblina que por vezes guardava a superfície da lagoa... a mesma lagoa que tantas recordações parecia evocar, embora fosse a primeira vez que se detivesse diante das suas margens... Sentiu passos atrás de si. Virou a cabeça lentamente. Era ela... "Boa noite!" Desejou-lhe com um sorriso e seguiu o seu caminho sem tornar a olhar para trás. Boa noite... Como poderia agora a noite ser boa senão nos seus braços?

domingo, maio 10, 2009

Bem-vindo


Chegara bastante atrasado ao local da reunião há tanto tempo agendada. Uma mulher caminhou na sua direcção desde a casa grande. "Bem-vindo!" dissera-lhe ela como se o recebesse pela primeira vez... E efectivamente nunca antes se haviam encontrado. Porém ele juraria que se conheciam há muito tempo atrás ...e que esta não era primeira vez que se cruzavam, mas sim a última. Não sabia quem seria a melhor testemunha daquela sensação: a lagoa ou os patos que a atravessavam...

sábado, maio 09, 2009

[ Hasta Siempre! ]


" Era o dia da despedida... olhavam-se pela última vez, olhos nos olhos...
Embora se conhecessem bem e há alguns anos, só hoje repararam que tão diferentes estavam desde aquele primeiro dia em que o destino os fez cruzarem-se.
Sorriram...
- Será que alguma vez nos vamos ver mais?
- Não sei... talvez... há quem diga que não se deve dizer nunca...
- Vai ser duro nos próximos tempos...
- Eu sei que vai.
- Tens de ir...
- Yo lo se... tengo que irme... hasta siempre...
- Hasta siempre... "

quinta-feira, maio 07, 2009

O dia morre amanhã


Tarde na manhã, manhã que é quase tarde... o rio segue placidamente o seu caminho, indiferente ao espectador solitário que sou eu. De forma quase involuntária salto para margem e inclino-me para inspeccionar o leito do rio. O meu reflexo (ou uma versão distorcida do meu reflexo) intromete-se entre nós. Encontro-me comigo próprio, subitamente estranho e misterioso, na superfície do rio, como se não fosse eu, mas o meu pai, o meu avô ou bisavô. É um pouco como se todas as gerações do meu sangue me espiassem com um certo desdém e desgosto. Talvez me recriminem por daqui a alguns anos não estar o filho que não tenho a olhar para mim na superfície sem forma deste ou doutro rio. Mas o que lhe poderia ensinar eu para além da verdade de que o dia morre amanhã?

domingo, maio 03, 2009

[ Tempos Paralelos... ]


" Por vezes acredito em mundos paralelos onde habita o que não existe deste lado de cá, mas acontece-me confundir essas realidades...
Por vezes não sei se estou do lado de cá...
Se do lado de lá...
Seremos nós mesmos essas duas realidades?
Serão esses caminhos paralelos realidades de um só caminho?

De que lado habitas tu?"

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