Não me lembro da última vez que poisei os pés no chão.
Já não falo há tanto tempo que receio esquecer o som das palavras.
Nem sei entender se o tédio é tédio ou simplesmente a ausência das distrações do mundo.
Por outro lado, aprendi que as horas mortas são contadas por um cronómetro que corre no sentido contrário e me leva ao antes do antes do princípio.
Se me entrevistasse a mim próprio, que perguntas me colocaria de modo a explicar ao mundo a minha proeza?
A que perguntas deveria eu responder para conseguir dizer que eu sou os olhos dum cego, as pernas dum paralítico, os ouvidos e a boca dum surdo-mudo no projecto impossível duma volta ao mundo em 80 palavras?
Na realidade, as perguntas que me faça não interessam minimamente.
Por esta razão não poderia deixar de dar uma mesma e única resposta a todas as hipotéticas perguntas:
- Ao voo rasante dos dias nada sobrevive para além do medo e do amor.