Nem tudo começa aqui e nem tudo acaba aqui

Uma viagem conduzida por:

sábado, janeiro 31, 2009

A Biblioteca Real


Eram cerca de 40 mil livros, explicava a guia, embora o número total de volumes fosse desconhecido, pois cada livro podia ser constituído por vários volumes. A Biblioteca Real viera de todo o mundo, incluía livros de todos os temas em todas as línguas. Olhei com admiração os corredores a perder de vista, recheados de belíssimas encadernações. Interroguei-me sobre se não constaria da colecção uma enciclopédia universal da história de todos os homens. Imaginei-me a percorrer os corredores procurando nas antiquíssimas lombadas este título, até encontrar o primeiro volume, que desfolharia até encontrar o meu nome, verificaria se a minha história até este dia estava correctamente descrita e devolveria o grosso compêndio à estante assim que chegasse ao dia de hoje. Não me interessava conhecer o futuro, desejava apenas ver o passado à luz da sabedoria dos Mestres… haveria melhor forma que essa de adivinhar o futuro?

sexta-feira, janeiro 30, 2009

[ Um Dia ao Entardecer... ]


" Sou o teu profeta, aquele que lado a lado viaja contigo à descoberta de imagens distantes, numa busca enigmática... sou aquele que acredita em miragens onde surges ao amanhecer por entre a neblina da montanha que um dia visitaste...
Sou o habitante secreto dos teus sonhos de criança...

E um dia ao entardecer... acreditarás em anjos... e levantarás voo desse lugar que vês desde criança... para habitar o sonho secreto de alguém que sempre esperou por ti... "

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Atmosfera


A sala da música era ampla e bem iluminada. Carregava ainda um eco inaudível de todas as melodias que um dia ali se haviam feito ouvir. Deste modo, o silêncio tornava-se asfixiante, não como uma ausência de som, mas como uma pausa na memória. Aproximei-me uma vez mais do antiquíssimo piano. Passei os dedos sobre o teclado, afagando a superfície estranhamente macia que me parecia ser feita de todos as mãos que daquelas teclas haviam feito magia. Teria sido muito fácil arrancar um lamento, um sorriso, um beijo do anjo adormecido... bastaria ter carregado fundo um acorde que me dançava nos dedos e se me esculpia na lembrança. Mas não, afastei-me do piano e sentei-me numa das cadeiras. Fiquei ali parado no meio do silêncio. Quem passasse diria que eu seria talvez o solitário espectador que chegou cedo demais para o derradeiro concerto do Amor.

quarta-feira, janeiro 28, 2009

[ Um Amanhecer em Lothlórien]


" Acordas na relva verde do vale que te serviu de cama, as gotas do orvalho misturam-se com as tuas lágrimas de alegria por mais uma noite de sonhos e aventuras nesta Terra de sonhos... onde a essência e a missão de um Universo se misturam com os teus próprios sonhos e desejos...
Ao longe a montanha confunde-se com o imenso mar para onde um dia partirás ao encontro da tua própria Alma... mas nessa viagem não irás sózinho... terás alguém a teu lado...
O céu serviu-te de protector, as estrelas de guias durante a noite da tempestade e a teu lado, sentado na relva, a observar o nascer do novo dia... aguarda quem também um dia embarcará contigo para sempre a teu lado... "

terça-feira, janeiro 27, 2009

Limbo


Ele e ela caminhavam em silêncio pelos amplos corredores do Palácio. A luz que entrava pelas janelas desenhava os limites da pista de aterragem para o desejo de ambos.

- Que idade tinha o teu pai quando morreu? - Perguntou ela.

-Quarenta e três. -Respondeu ele.

Fiz um cálculo mental e perguntei ao meu filho:

-Que idade tinhas tu quando eu morri?

segunda-feira, janeiro 26, 2009

[ Mundo Imaginário ]





" Olhas o teu Mundo como se fosse imaginário, na tua mente esvoaçam as imagens que gravaste enquanto tocavas a pele de alguém... lá bem alto as estrelas escreviam o teu destino... e tu escutavas a melodia da montanha, ecos do nascimento de um Universo sonhado... do qual fazes agora parte... "

sábado, janeiro 24, 2009

Réquiem

O Palácio encontrava-se todo engalanado para a cerimónia daquela noite. Tudo estava imaculadamente limpo e cada coisa no seu lugar. Muitos dos compartimentos haviam sido fechados ao público. Os seguranças vigiavam com aquele olhar de falsa indiferença. A guia explicava que muitas das portas que víamos ao longo das salas eram também falsas... pintadas na parede. Deixei-me ficar para trás e acerquei-me de uma delas, verificando que a maçaneta efectivamente estava para além do alcance da minha mão. Apressei o passo para apanhar de novo o grupo. Um estalido atrás de mim, fez-me voltar a cabeça mais uma vez para a porta fingida. Não posso descrever o que senti quando constatei que estava agora entreaberta... Uma silhueta espreitava-me da semi-obscuridão da porta falsa. Antes que pudesse esboçar um movimento a porta fechou-se novamente. Tornei a aproximar-me. A maçaneta continuava a ser um mero desenho na parede. Tacteei a superfície suave da pintura. Não havia dúvida que era apenas uma parede. Suspendi a respiração e encostei a cabeça à porta mentida. Poderia jurar que do lado de lá alguém fazia precisamente o mesmo... Será que somos nós que vemos as miragens ou serão as miragens que nos vêem a nós?

quinta-feira, janeiro 22, 2009

[ Um Abraço Ao Longe ]


" Passo a passo olhas o horizonte e imaginas um abraço ao longe... voas na tua mente, rasando as águas gélidas...
O frio lembra-te aquelas mãos suaves a quem davas a mão enquanto as tentavas aquecer... olhando ao mesmo tempo, o pôr-do-sol que atrás de ti te chamava para uma outra paragem, um outro Tempo, uma outra Era... "

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Quem é Quem?



Acho que as pedras do chão não são as mesmas... ou será que as pedras eram as mesmas e eu não era eu? E ela? Quem é a mulher que eu trago pelo mão? É a mesma desses dias? Será que ao menos ela era a mesma? Serei eu que a trago pela mão ou ela que me traz a mim? Seria eu ela e ela seria eu? Mas o que digo?! Não está mais ninguém aqui!...

sexta-feira, janeiro 16, 2009

[ Hoje Não... Amanhã Talvez... ]


" Olhas pela janela e não vislumbras o horizonte... « ...hoje não... amanhã talvez... » pensas tu enquanto lá fora deste o teu melhor, mostraste o teu peito ao mundo e o mundo suspeitou de ti...
A melodia que escutas na tua sala envolve-te e faz-te acreditar num amanhã...
Desesperas enquanto a melodia se eleva... uma batalha entre o teu silêncio e a verdade que escutas, são a única ponte para a tua realidade.... que... pedaço a pedaço tentas construir...
Anoitece no céu... a Luz da noite faz-se sentir na tua alma...
Mas... amanhã talvez seja diferente... e sorris... "

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Controlo


- Deve haver algures uma torre de controlo que assegure que tudo acontece como deveria de acontecer, não achas? - Questionou o mais velho.

- Não sei se há... a engrenagem deve ter um sistema qualquer de segurança. - Torceu o nariz o mais novo.

- Esse é um dos erros mais frequentes entre nós - sorriu o velho -, subestimar as coisas, acreditando que elas são um fim em si mesmo e não uma parte do todo...

segunda-feira, janeiro 12, 2009

[ Leva-me Contigo Esta Noite... ]


Do que são feitos os teus sonhos?
De que matéria é feita a tua Alma?
Eu quero saber do que é feito o Amor...
e quem sabe, tocar assim, a tua própria Alma...

Eu quero sentir isso tudo e mais ainda...
Escuta o teu próprio coração... que sentes?

Eu quero entrar de manhã nos teus sonhos,
habitá-los nas tardes e nas noites...
Fazer-te sentir que habitas há muito os meus... mesmo sem saber quem eras...

Leva-me contigo esta noite... deixa-me habitar esse teu sonho...

domingo, janeiro 11, 2009

Conta-me a tua história



Olá, conta-me a tua história... aquela que não cabe nos teus olhos... aquela que não se desenha ao longo das linhas suaves do teu rosto... aquela que não fica aprisionada num pedaço inerte de papel... aquela de que se faz a Vida, o Tudo e o Nada.

sexta-feira, janeiro 09, 2009

[ O Teu Lugar No Meu Tempo... ]


" Um dia no meu Tempo, encontrei os olhos de quem sempre amei em sonhos...
Os Deuses, ao longe, marcaram o lugar onde te conheci, e, era esse mesmo o lugar onde, sorrisos foram trocados e nunca esquecidos...
Fecho os olhos e sonho de novo...
É no silêncio que consigo imaginar-te,
É no silêncio que olho os teus olhos... e escuto as tuas palavras...
Fecha os olhos comigo e sonhemos acordados,
A minha alma confunde-se com a tua...
Pego na tua mão,
Lá fora o mundo deixou de existir...
Um minuto contigo são sessenta segundos de eternidade,
Ver-te respirar enquanto sonhas é um sonho...
O teu lugar é no meu Tempo... o teu lugar é no meu peito..."

domingo, janeiro 04, 2009

O Reino


Interrogou-se sobre se alguém o esperaria quando chegasse... A noite começava a esconder o mundo dos seus olhos. Haveriam fogueiras acesas no caminho para lhe iluminar os passos? Permaneceria ainda alguém a pé, aguardando para lhe abrir a porta do castelo, ou, pelo contrário, ter-se-iam recolhido todos para um sono revigorante? Não duvidava do amor que os súbditos lhe tinham, mas sabia como a fé dos homens era fraca e era bem conhecedor de como baqueia o espírito na ausência da visão daquilo que deseja. A esperança podia ser uma forma de vida ainda mais precária do que os cogumelos de que se alimentara ao longo da sua longa jornada. O que ele não sabia era que o seu Reino já não cabia nas fronteiras construídas pelos homens... estendia-se agora até bem fundo nos seus corações.

[ O Sinal do Sol... ]


" Ambos esperávamos pelo Pôr-do-Sol, todos estavam cansados e nem sequer conseguiam falar uns com os outros. O sinal que esperavam tardava já há dois dias... naquele lugar inóspito nem sequer o voo de uma ave conseguiam vislumbrar ao longe...
Afinal que sinal era esse? Teria de ser algo grandioso para que reparassem, teria o Sol uma côr fora do comum? Seria um cataclismo nos céus? Tinham-lhes dito que seria algo muito simples... mas ao mesmo Tempo inesperado... só um ou outro acreditava nessa «simplicidade» desse tão afamado sinal, num local onde parecia não acontecer nada.
O silêncio pesava cruelmente de novo neste final de dia... e todos pareciam, cada vez mais, em não acreditar que pudesse acontecer algo...
O mais velho de todos, levantou-se e olhou o Pôr-do-Sol vagarosamente... pareceu procurar no horizonte por algo e... sorriu... apontando muito suavemente para o lado esquerdo do Sol... disse «Olhem, finalmente chegou...» todos se levantaram.
Incrédulos não viam nada... apenas vislumbraram uma pequena gaivota a atravessar o Sol paralela ao horizonte... tentaram olhar mais adiante e nada... procuraram e nada... e reclamaram junto do ancião que os olhou incrédulo... e disse:
« Juntem as vossas coisas... viram aquela ave que passou por aqui? Temos de a seguir... e quanto à espectacularidade do sinal que tanto aguardavam, reparem bem à vossa volta... que maior Sinal querem vocês? Olhem bem - disse algo enraivecido - queriam uma chuva de estrelas, quando a Natureza vos oferece de mão beijada tudo isto?? O Sinal era aquela ave em voo paralelo ao horizonte...» E apontou o imenso mar que se entendia já em tons púrpura e laranja até onde a vista podia alcançar...
O silêncio que se seguiu envergonhou todos... de facto tudo agora parecia com uma dimensão fora do comum... todos olharam de novo para o mesmo lugar, tudo era tão perfeito, tudo era tão poderoso e, deslumbrados, conseguiram ver o que nunca viram... o simples tornara-se no complexo e teriam de estar mais atentos da próxima vez... "

quinta-feira, janeiro 01, 2009

[ A Luz da Verdade ]


" Por momentos duvidou de si mesmo... valeria a pena lutar pela Verdade?
De momento não conseguia responder... mas uma coisa tinha a certeza... e, lembrando-se das palavras do seu Mestre «mais vale acreditar em toda a gente e ser enganado, chorar por isso... do que duvidar de um coração merecedor de confiança, o qual... seria uma benção na vida de qualquer pessoa... ».
É claro que ele lutaria pela Verdade... mesmo sabendo que poderiam duvidar dele, manter-se-ia firme... e... um dia... conseguiria ser merecedor de confiança... sendo uma benção na vida de alguém...
A Verdade detém uma Luz poderosa e pode ser lida olhos nos olhos... e esse brilho provém da alma do mundo tal como tinha aprendido... "

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