Nem tudo começa aqui e nem tudo acaba aqui
Uma viagem conduzida por:
domingo, setembro 30, 2007
O Turista Acidental
Os pés não nos podem levar levar tão longe quanto o desejam os pensamentos.
Os caminhos nem sempre deixam pedras nos sapatos.
Os lugares servem-se das pessoas para viajarem a seu bel-prazer: a Itália perguntou-me hoje onde ficava o multibanco mais próximo, no outro dia a Inglaterra pediu-me para lhe tirar uma foto com a praia ao fundo.
Nem todas as histórias precisam de palavras para se escreverem - a arte é o suor da alma.
sábado, setembro 29, 2007
Onde o teu céu existe...
terça-feira, setembro 25, 2007
Sementes de Eternidade
domingo, setembro 23, 2007
Décadas
O Tempo foi o meu amigo, o meu confidente, o amante secreto aos braços do qual eu nunca pude fugir.
O Tempo usou-me, exactamente da mesma forma que eu o usei a ele também.
O Tempo usou-me para redigir o seu diário, escreveu-me em cada ruga, em cada cabelo branco, mas hoje, quando me olho no espelho, o que leio é a minha história passada, presente e futura.
Este corpo é somente um souvenir... um novo recuerdo de alguma coisa mais luminosa e absurda que não cabe em palavra alguma.
Estes cabelos brancos em pouco diferem do cacho de caracóis de bebé que os meus pais guardarm no álbum fotográfico da minha infância.
É dificil começar tudo de novo... sentimos o fogo dentro de nós.
Custa a acreditar que algo queime mais do que o sol, porém há algo mais quente e incandescente do que o núcleo solar... o seu nome é sabedoria... vem misturada com o sabor acre do fogo, enchendo-me duma sede que água alguma poderia saciar e secando-me de dentro para fora e de fora para o mundo, numa vertigem que voa no interior dos meus olhos.
É este o sabor da liberdade?
É isto que é ser livre?
O tempo zomba de mim, condensando em poucos segundos aquilo que demorou uma vida a escrever em mim... como se limitasse a poucas linhas o último volume da saga que redigiu com o meu nome.
Em certa medida não o deveria recriminar... Este é o fogo de artifício do final dos tempos... estes são os últimos segundos do último ano, da última década, do último século do milénio final.
Não haverá outro mundo como este.
Nenhum outro mundo será observado num misto de temor e respeito por estes velhos olhos...
Todavia...
Sem desculpas, sem medos, sem saudade, tudo volta ao seu lugar.
quinta-feira, setembro 20, 2007
O Tudo e o Nada
" Todos nos acotovelámos para ouvir, mais uma vez, aquele homem que tinha percorrido sabe-se lá que caminhos, com promessas e respostas para os nossos sonhos de crianças... desta vez ele respondeu a uma pergunta que todos nós já tínhamos feito a nós próprios... o que era o Tempo...?
Demoradamente o velho senhor esboçou um sorriso e respondeu calmamente...
- Tempo e Espaço são como uma rede que nos apanhou, mas as redes têm buracos. Encontra esse buraco e sai por ele... e encontrarás aquilo que os olhos não podem ver, que os ouvidos não podem ouvir, que a mão não pode tocar e o que nunca ocorreu ao teu espírito... reparem nas borboletas que brilham ao sol e vibram com as suas cores... que acontece quando as apanhamos e passamos com os nossos dedos nas suas asas? Libertam um pó e as asas, anteriormente brilhantes, perdem rápidamente aquele brilho e beleza...
A realidade pode estar para além do que aquilo que vemos... daquilo que sentimos... daquilo que vemos... o nada invísivel transforma a realidade sem esforço... "
sábado, setembro 15, 2007
Para Além da Verdade...
terça-feira, setembro 11, 2007
Fascination street
Com tristeza ele voltou as costas e atravessou pesaroso a rua.
Na memória bailavam as imagens agora impossíveis duma outra despedida.
A mulher que então ficara para trás e a mulher que agora ficava para trás olhavam-se desconfiadamente, estudando-se mutuamente dentro seu olhar.
Eram ilusões da sua mente, e ele bem o sabia, mas, ainda assim, continuava sem fazer a miníma ideia do que pensavam uma e outra.
A verdade era relativamente simples: uma possuia o elemento-maravilha e a outra não... uma era instantaneamente desejável fazendo disparar-lhe o coração a mil à hora e a outra deixava-o perfeitamente indiferente e, por mais que apreciasse a sua companhia, que apreciava sem margem para dúvida, sem o mais leve traço de emoção... e que bom seria se ele pudesse amar a mulher de hoje como amara incondicionalmente a mulher de outrora!...
Triste era que a mulher de outrora, de quando voltara as costas e se afastara a passos largos desse outro lugar, sentira por ele exactamente o mesmo que ele sentia neste preciso momento pela mulher de agora, caminhando rapidamente através daquela rua que parecia nunca mais terminar, enquanto os olhos dela se cravavam pelas suas costas como dois punhais de fogo.
Ele experimentava ao mesmo tempo o corte frio e dilacerante dos dois gumes da faca da rejeição... perfurava-lhe a pele debaixo da pele da pele a lâmina ainda afiada do dia já longinquo em que fora rejeitado e também a lâmina incandescente do ainda mal acabado instante em que rejeitara da mesma forma que fora rejeitado...
"A rejeição é um adeus a nós próprios na voz doutra pessoa." Pensou ele quando finalmente dobrou a esquina.
domingo, setembro 09, 2007
O Altar do Tempo
sexta-feira, setembro 07, 2007
Fora de horas
As longas barbas brancas talvez escondessem ainda a suavidade da pele do jovem impetuoso de outros dias menos esquecidos do que o dia de ontem e ainda assim não tão longinquos como o dia de amanhã.
Quem lhe ensinara mais?
O homem que lhe ensinara a sagrada arte e o secreto ofício que agora se incumbia de transmitir a outros mais jovens e inocentes, ou os olhos da mulher que amava ainda para além da morte?
Quem fora na verdade o Mestre mais precioso?
Desejou ardentemente encontrar esse mesmo olhar quando se voltasse para averiguar que estranho restolhar fora aquele logo atrás de si... porém o mais certo era ser apenas um dos seus protegidos ...ou na pior das hipóteses um dos soldados da horda inimiga prestes a desferir sobre si o golpe de misericórdia.
Fosse como fosse não poderia prolongar eternamente o prodígio daquele instante entre o último gole de água e o acto de se virar...
Às vezes acredito que o futuro está escrito nos teus olhos... Deve ser por isso que temo olhá-los bem fundo... como se esticasse os pés e espreitasse através duma janela onde o futuro, o passado e o presente se confundem e amalgamam como uma singular inominabilidade. Inquietantes cenários e enigmáticas situações envolvendo improváveis objectos parecem acontecer dentro deles... o impossível não parece tão irremediável durante o tempo que dura o teu olhar... É na inolvidável maravilha do teu olhar que o chumbo dos meus pensamento se metamorfoseia no ouro das asas dum pássaro que voa livre para além do Tempo. Nem que vivesse mil anos encontraria descrição mais apropriada do que esta para a alquimia da tua presença...
quinta-feira, setembro 06, 2007
O Regresso
domingo, setembro 02, 2007
A Visão
Na escura noite em que o cavaleiro nos levou a mensagem todos pressentimos de que algo não estava bem, só aquela fogueira nos pareceu real, a própria Lua, companheira dos solitários e caminhantes, parecia diferente...
Atrás de nós pareceu-nos ouvir um estalar de ramos, como se alguém andasse perdido naquele imenso bosque. Olhámos uns para os outros, pareceu-nos que ninguém faltava, mas ao mesmo tempo alguém que deveria estar connosco não estava e isso perturbou-nos a todos...
O mais velho de nós apagou a fogueira e disse:
- Temos de seguir, como sabem está na hora, a Lua deu-nos o sinal... hoje é a noite da batalha, aquela que todos tememos e aquela que todos esperamos.
Alguém então perguntou...
- Quem anda na floresta?
O velho sábio olhou para nós dizendo:
- Quem procura encontra, somos mais do que somos aqui... há guerreiros da Luz que nos acompanham sem saber, no entanto estão no caminho certo... um dia quando acordarem seguirão, mesmo de olhos vendados e na noite mais escura a Luz que nunca viram mas que sabem existir...
Seguimos em frente... o som de alguém atrás de nós, por momentos, deixou-se de ouvir... o nosso companheiro desconhecido havia de voltar a encontrar o nosso caminho... e isso para todos nós era uma verdade.
Torre
Lembro-me que era fim de tarde. Estava em casa. Talvez lesse um livro ou qualquer coisa do género. Era o meu último dia de férias. No dia seguinte teria impreterivelmente de me apresentar ao trabalho.
A luz que entrava pelas amplas janelas da sala começava a definhar e a dar espaço para as sombras crescerem. Se quisesse ir dar o tal passeio que pensara pela mata circundante à minha casa teria de sair agora, caso contrário ficaria demasiado escuro e seria já noite demais.
Levantei-me do sofá num único impulso, apanhei a chave de casa e saí. Atravessei a estrada tomando o caminho da mata. As altas árvores já nem me deixavam ver o por do sol, mas havia ainda claridade mais do que suficiente.
Em vez de seguir os trilhos do costume resolvi experimentar algo de novo. Porque não seguir aquele esboço de carreiro que se afundava mais ainda no vale? Pelo estado reparava-se que não era usado há muito. "Que se lixe!" Avancei destemido.
Desci e subi, subi e desci, enquanto as sombras iam tomando conta do mundo à minha volta.
A noite cercava-me como um anjo ou um demónio.
Que horas seriam já? Na realidade não importava muito... não lamentava ter trazido apenas a roupa que me cobria o corpo e a chave de casa. Não podia dizer que tivesse saudades do meu relógio ou do meu telemóvel. Sentia-me bem assim livre do tempo e do mundo.
Todavia, continuava a subir montes e descer colinas sem fazer a mínima ideia de onde estava.
Nunca me tinha afastado tanto nos meus passeios pela mata.
O som errático dos meus pés a pisar a pedra no chão (não lhe chamaria já passos) e a madeira que acariciava com a palma da minha mão numa pausa para descansar...
Esta sensação era-me familiar...
Com uma ligeira diferença... a pedra tocava-me a mão e a madeira sustentava os meus pés.
Se fechasse os olhos quase conseguia ouvir outros sons a dançar com o cantar dos grilos embalado no silêncio do fim de tarde, principio de noite na mata...
Estava parado a meio caminho das escadas de madeira da torre do castelo, uma mão poisada sobre a pedra e outra sobre o meu coração, os olhos fechados apesar da noite ir já adiantada.
Lá longe... música... Uma gaita de foles e... tambores? Sim. Outro ruído... O crepitar duma fogueira! Vozes... Pisotear... Ah! Pessoas a dançar à volta da fogueira! Copos a ser erguidos no ar, o vinho a salpicar o pó. Uma festa! Quem sabe não acabou de nascer o principe herdeiro deste reino? Ou talvez esta seja a última noite antes da derradeira batalha contra o temível inimigo aquartelado do lado de fora da muralha...
Acho que reconheço um outro som... mais em cima... este suave restolhar devem ser os estandartes e a bandeira deste jovem e imberbe país a bailar também ao sabor do vento no topo da torre.
Quem sou eu aqui parado a meio das escadas da torre? Serei um soldado que sobe para render a vigia às legiões inimigas? Talvez seja o rei que desce para se juntar às comemorações pelo nascimento do seu primogénito. Posso até ser um simples aprendiz de ferreiro à espera da amante, uma das aias da rainha, que conheci numa outra noite como esta, quando procurava alcançar o cimo da torre para experimentar as asas por mim construídas para voar e maravilhar o coração dos homens.
Talvez esta seja a altura certa para eu abrir os olhos...
Mas o que fazer quando a escuridão é tão grande com os olhos fechados quanto com eles abertos?