Nem tudo começa aqui e nem tudo acaba aqui

Uma viagem conduzida por:

sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Suspeita


Talvez seja pretensiosismo da minha parte, mas não acredito que viajar no tempo seja um dever a que tenho direito...

A minha agência de viagens bombardeia-me com ofertas ao preço da chuva para zarpar em direcção aos períodos históricos mais apetecíveis.

Mas o que posso pedir de melhor do que o dia de hoje, se todos os meus contemporâneos vagueiam, neste rigoroso momento, nalguma zona indeterminada do passado e do futuro?

Prefiro ser um homem só no mundo do que um mundo só no meio dos homens...

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

"E ele sorria mais uma vez..."


" Hoje vieram-lhe à ideia lembranças de outros Tempos... ou talvez fosse sómente aquela imagem que o transportou para aquele preciso momento, àquele derradeiro momento em que um sim ou um não fariam toda a diferença.
Ao fechar os olhos, para relembrar aquele dia, sentiu-se do outro lado... de um lado que não mais voltaria e de onde nunca se despediu...
Ele sabia que que as despedidas eram aquilo que mais temia, sempre o soubera, desde muito cedo... mas sempre o conseguira disfarçar... porque fazemos sempre de conta que aquilo que não gostamos não existe, verdade?... havia mesmo quem pensasse que para ele tudo aquilo era fácil « - Que despegado que ele é....!» diziam as pessoas que nunca o conheceram... e ele sorria... mais uma vez ... todos estavam enganados..."

terça-feira, fevereiro 19, 2008

A Genealogia do Tempo

Eu aspirava o ar puro da Rua do Horizonte, perdendo o meu olhar algures entre a terra e o mar, quando aquele estranho personagem me abordou com ar de vago mistério, tomou-me o braço e, apontando a casa do outro lado da varanda para o vale, sussurrou-me ao ouvido:

- Já reparou que nesta casa, uma vulgaríssima casa , uma casa como outra qualquer, a esta hora do dia se lê o futuro e se revelam todos os segredos do passado? É só preciso saber desvendar, é só preciso saber decifrar... Concorda?

Olhei-o como que estremunhado e respondi:

- Com corda ou com cordão interessa é agarrar o presente... o hoje... o agora...

O homem largou-me o braço abruptamente e afastou-se espreitando-me por cima do ombro com mal disfarçado despeito... Resmungou qualquer coisa entredentes... Não percebi se dizia "A corda" ou "Acorda"...

domingo, fevereiro 17, 2008

Ribeiro Lindo Rebelo


As minhas pegadas serão as tuas pegadas quando eu coloco cuidadosamente os meus pés onde os teus pés fizeram o seu caminho?

A tua voz será a minha voz sempre que dizemos "Amo-te..." à desgarrada?

O rio será o rio ou apenas o veículo por onde passa o barquito onde depositamos um único e singular olhar?

- Amo-te.

- Eu amo-te mais...

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

E Se O Meu Tempo Não Fosse O Teu Tempo?


E se o meu Tempo não fosse o teu Tempo?
Se o voo do pássaro, como lhe chamavas, riscasse o céu só para mim?
E se na cidade branca só eu me perdesse?
Se o meu Tempo não fosse o teu...
nunca os meus olhos imaginariam os teus olhos...
nunca os meus lábios tocariam os teus lábios...
Se o meu Tempo não fosse o teu,
Seria o teu sol diferente do meu?
Seria a tua poesia um Universo que um dia eu descobriria?
Mas o meu Tempo é o teu Tempo...
A tua Alma é o espelho da minha Alma,
Porque eu habito o teu Tempo... e tu o meu...

domingo, fevereiro 03, 2008

Dejá vu

- Tive agora uma sensação tão estranha... - Disse ela olhando em volta. - Poderia jurar que já estive aqui... Eu já estive neste lugar com alguém, embora seja a primeira vez que piso este chão.

- E esse alguém não era eu? - Interrogou ele.

- Não. - Franziu ela o sobrolho.

- Talvez essa sensação não viesse do passado... - Retomou ele a palavra quebrando um curto e vagamente desconfortável período de silêncio . - Quem sabe não sonhaste há muitos anos com este dia em que tu e eu viessemos aqui... muito antes de nos conhecermos... muito antes de de acreditares que um dia estaríamos aqui com a paisagem no coração e o outro no olhar...

- Achas que sim? - Hesitou ela.

- Não sei... - Sorriu ele. - Mas às vezes parece mesmo que as premonições nada mais são do que recordações dum passado remoto e que os dejá vu são apenas e simplesmente memórias do futuro.

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