Nem tudo começa aqui e nem tudo acaba aqui

Uma viagem conduzida por:

quarta-feira, dezembro 31, 2008

Catarse


E chegara ao lugar onde o mundo, tal como o conhecia, se quebrava e fundia com as mil e uma outras dimensões que se estendiam pelo continuum espácio-temporal... Olhou em volta a praça vazia. Não se via vivalma, o que era estranho, tendo em conta que esta era a noite da passagem de ano. Seria de esperar encontrar o local a abarrotar de convivas celebrando a honrosa morte do ano velho e festejando o nascimento do novo ano... Onde estariam todos? Teriam partido para uma das outras dimensões? Ou teria ele dado o salto sem se aperceber, calcorreando já um mundo como o mundo jamais vira? Então ouviu o sibilar dum foguete subindo aos céus. A sua explosão anunciava o minuto zero do ano que chegava. O fogo de artíficio encheu de colorido os céus, e, sem entender como, encontrou-se no meio da multidão que saltava, se abraçava e beijava, dando as boas vindas a 2009. Sorriu. Já não estava cá, mas também ainda não estava lá. Percebeu que tinha de partir, cortar o cordão e seguir. Murmurou meia dúzia de palavras que morreram no bruá da imensa massa humana, deixando atrás de si apenas um espaço vazio no meio dos homens, mulheres e crianças que iriam fazer da noite madrugada e da madrugada dia.

[ O Que Olhas Peregrino?]


" Ele chegara áquele Lugar que todos diziam sagrado, onde deuses se deixaram olhar pelos Homens pela primeira e única vez... onde Elfos e Fadas desembarcaram para darem início à maior batalha de sempre da história da Terra.... onde Guerreiros da Luz se reuniram e olharam a Lua juntos, desde há milénios...
Ele estava sózinho, mas muitos ficaram para trás, toda uma vida se desenrolara à sua frente quando se lembrava disso mesmo... dos seus amigos, das promessas levadas pelos ventos... dos momentos bons e dos momentos maus...
Procurou pelo seu amigo e companheiro de viagem e sómente conseguiu lembrar-se das suas palavras... « - Eu chegarei quando tu o quiseres... »
Não entendia muito bem o que aquelas palavras, meio enigmáticas, queriam dizer... o que é certo é que não se sentia bem sem ele, sentia-se seguro perto dele... e nada parecia ser impossível quando estavam juntos... nem mesmo esta viagem tão longa que há tanto Tempo iniciara.
Foi então que se sentou e olhou o pôr-do-sol... e... ao mesmo Tempo... alguém perguntou:
« O que olhas Peregrino?...»
Virou-se e olhou espantado o seu companheiro de viagem...
O seu amigo e companheiro disse:
«Eu cheguei quanto tu o quiseste... »"

segunda-feira, dezembro 29, 2008

[ Sonho em Azul ]


"A tua alma mergulha num imenso azul... és o viajante de um Tempo que passa...

Vejo o dia amanhecer...

Procuro nos céus sinais de ti..."
.

domingo, dezembro 28, 2008

O Construtor


"Quando começamos a amar alguém, ficamos tão egocentricamente cegos pela nossa própria dor, que não vemos o sofrimento que, eventualmente, possamos causar no desespero em que nos movemos em direcção ao objecto do nosso amor." O Construtor falava com os olhos fixos na casa onde sonhara ver crescer o seu amor, os seus filhos e até os seus netos. "Esta casa nunca será terminada... fica como o monumento a um amor imperfeitamente completo, uma homenagem a quem me partiu o coração por eu lhe ter partido o seu antes." O Contabilista esboçou um gesto de protesto, mas ao ver a forma como os olhos do Construtor se afogavam em lágrimas, calou as preocupações da sua aritmética e refez alguns cálculos. Assim como assim, o Construtor não ficaria tão pobre de dinheiro como o era agora pobre de afectos. O Contabilista colocou a mão sobre o ombro do Construtor e começaram ambos a descer o monte em direcção à cidade.

sábado, dezembro 27, 2008

[ Sempre Contigo... ]


" Lado a lado caminhamos juntos, cúmplices de uma história secreta, que um dia, o Tempo irá guardar...
Agarras a minha mão para me salvares de um qualquer abismo, e dizes-me «amo-te» sem saberes que sou eu quem já te ama...
É o imenso Oceano que apaga o passado, levando as nossas memórias, tal como as pegadas que gravaste comigo na areia.
Caminharei lado a lado sempre contigo... até ser dia... até ser noite..."

segunda-feira, dezembro 22, 2008

Encantamento


Da janela da sua cela o mundo afigurava-se infinitamente mais belo do que depois de calcorrear os caminhos encosta abaixo. Lá em cima havia uma viagem imaginária a empreender rumo à água revitalizadora do rio. Cá em baixo apenas o frio que se entranhava nos ossos e as gotas molhadas que o sol tardava em secar por toda a sua pele. Nessas alturas recordava a pressão suave do corpo dela, aquecendo-o num abraço que nunca era suficientemente longo. Por esses dias a água do rio parecia-lhe estranhamente tépida e agradável. Pensava em como era gostosa a sensação dos lábios dela sobre o seu ombro molhado, sobre o seu peito mal seco, sobre... Alguém o chamava. Será que!... Não, não era ela. Ela esfumara-se no tempo, como se nunca houvera existido. Aquela era simplesmente a voz do engano, um truque de ventríloquo do destino, servindo-se dum ramo partido, dum cacho de uvas a cair, dum animal a escapar-se pelas giestas. Era hora de voltar para o mosteiro, as tinas estavam já cheias de água. Puxou o burro, mas olhou uma última vez para trás desconfiado. Poderia jurar que ela o olhava por detrás daqueles arbustos ou daquelas pedras. Mas como poderia isso ser? Não fora naquele rio que se havia banhado com ela... não haviam sido aquelas águas as testemunhas silenciosas das suas amnésicas juras de amor eterno... Por estranho que parecesse, e apesar de ele nunca ter cumprido a promessa do regresso à margem desse outro rio (para quê estragar um momento perfeito?), aquele continuava a ser um lugar prodigioso, uma espécie de encruzilhada de magia e encantamento onde tudo parecia possível.

domingo, dezembro 21, 2008

[ O Teu Refúgio Contigo...]

" Por momentos hesitaste, um silêncio te aguardava naquele teu lugar, um vazio imenso sentiste no teu peito... como era possível alguém habitar um lugar onde nunca estivera?
Confuso e algo enebriante, viajaste no Tempo até ao outro lado do Oceano onde um abraço te aguardava ainda... e sempre..."

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Desmoronamentos



"A sombra sofre também dos padecimentos do corpo, a tala numa perna partida implica também a sombra da tala na sombra da perna; é por isso que eu fujo da luz." Explicou ela. "Só saio a esta hora, quando as sombras desmoronam a cidade, e, por breves momentos, o mundo é um lugar seguro para a minha sombra. Se ela não sofrer, nem males de espírito, nem males da carne, é possível que eu não sofra também."


Era esta a justificação para nos encontrarmos assim fugidia e furtivamente no mesmo lugar onde nos havíamos visto pela primeira vez.


Ela enlaçou-me nos seus braços, beijou-me os lábios e perguntou "Amas-me?"


"Amo-te como nunca acreditei poder amar alguém." Respondi, encostando-me à amurada da ponte secular.


"E és feliz?" Quis ela saber.


"O amor não existe para nos fazer felizes..." Hesitei, embora decidido a não mentir. "O amor é o lado de dentro da felicidade, mas nunca, nunca nos deixa entrar verdadeiramente, por mais que batamos à porta..."


Ela desenlaçou-se gentilmente do meu corpo, fazendo os seus braços deslizar de forma suave pelos meus, as suas mãos percorrendo de modo macio as minhas mãos até as deixarem suspensas no vácuo da despedida.


Afastou-se como sempre o fazia àquela hora. Era a sua hora de partir. A iluminação pública começava a acender-se, desmoronando as trevas do lusco fusco, trazendo sabe-se lá que hipotéticos malefícios para a sua sombra.


Eu deixei-me ficar longamente debruçado sobre a ponte, depois da silhueta franzina desaparecer numa das inumeras ruelas da cidade. A minha sombra debruçava-se já também pela ponte, observando também a forma como os candeeiros reescreviam o mundo após a partida do sol. A catedral entrava-me pelos olhos dentro como as lágrimas que eu tentava a custo reter, o rio parecia correr para aquele lugar onde eu nunca, nunca conseguiria chegar.


terça-feira, dezembro 16, 2008

[ A Alma do Tempo... ]


" Ele em criança sabia que os animais eram parte da natureza, habitavam as suas histórias, sonhava e falava com eles a mesma linguagem...
Ele sabia que os animais sentiam e ouviam o mesmo que ele... nem era preciso falar com o seu cão, amigo de tantas brincadeiras, cofre dos seus segredos e seu confidente. Sempre que algo não estava bem, era a ele que se dirigia... abraçava-o e ele retribuía olhando-o fixamente nos olhos... porque é assim a verdadeira amizade... estivesse onde estivesse, perto ou longe, nalgum passado, presente ou mesmo futuro ele lá estava... e já em homem o relembrava com um brilho nos olhos que escondia de todos... porque naqueles momentos voltava a ser criança.
Um dia... teve de partir... não se despedindo do seu amigo de brincadeiras... e nunca mais o viu. O seu coração ficou magoado, mas a vida corria mais depressa que ele mesmo... não se dando conta que aquele cão um dia o olhou sabendo que era a última vez que o iria ver... sim porque os animais sabem mais que nós... e ele só queria um abraço do seu amigo, daquela criança que ajudou a crescer e a tornar-se num homem... mas não se importou... aquele homem seria o seu amigo para sempre.
Um dia ao fechar o portão para partir ele latiu dizendo-lhe um adeus, os sons confundiram-se e o seu " menino" partiu sem olhar para ele...
Anos mais tarde o mesmo homem relembrou-o emocionado a alguém... e esse alguém contou-lhe que algures no Tempo, ele e o seu amigo de criança estavam ainda juntos... habitavam a Alma do Tempo..."

segunda-feira, dezembro 15, 2008

O Lado errado do Tempo


A noite era de lua cheia. Uma subtil luz azul poisara sobre a velha fortaleza e a cidade a seus pés, como uma espécie de pó fosforescente acumulado pelos séculos. As nuvens dançavam diafanamente diante da lua como se de véus se tratassem. Apesar da infinita beleza da noite, voltei a cabeça para dentro da idosa muralha. Sentia uma espécie de chamamento... algo me atraía para dentro do velho túnel... O silêncio das vozes dos milhares de pessoas que um dia tinham atravessado aquela passagem parecia ressoar ainda nas paredes e no chão gasto por incontáveis passos. Aspirei profundamente o ar da noite. Por um momento, acreditei estar no lado errado do Tempo.

quarta-feira, dezembro 10, 2008

[ O Tempo Carrega as Promessas por cumprir... ]


" O Tempo cansou-se das promessas dos Homens, das suas palavras mansas e das manhas que essas palavras escondiam... negou-se a carregar as falsas promessas da Humanidade.... daqui para diante seriam os Homens a transportar tal fardo.
Passaríamos todos nós a usar de maior cuidado no uso da Palavra?
«- Eu Prometo que...» tornar-se-ia no inimigo principal de uma Humanidade fraca, com Homens falsos e colapsaria perante um peso imenso, maior que o próprio Universo...?"

O Homem na Lua


Há já dois anos que o homem chegara à Lua.

Nunca se esquecera da primeira vez que vira a obra do homem a tocar a lua.

"É uma simples ilusão," protestaram alguns, "algo que daqui a poucos minutos se esfumará como se nunca tivesse acontecido."

O homem sorriu e comentou que uma viagem, maior do que aquelas que se realizam desgastando os sapatos, era empreendida no lado de dentro de cada pessoa.



( Hoje o Paralelo 77 comemora o seu segundo aniversário ;-) )

segunda-feira, dezembro 08, 2008

[ À Procura de um Anjo na Terra... ]



" Caminhando na Terra de ninguém olhando as estrelas,
Fui o bandido, o ladrão, o amante, o cobarde...
Fui o guia, o santo, o pecador, o pai...
Amei e fui amado,
Odiei e fui odiado...
Acreditei e duvidei...
Menti e falei a verdade...
Chorei e fiz chorar,
Pedi perdão e fui perdoado,
Pedi perdão e não fui perdoado,
Conheci o Paraíso e o Inferno,
Sonhei... acreditando nos sonhos...
Sonhei... não acreditando nos sonhos...
Fui o louco e o poeta... não sendo nem uma coisa nem outra...
Abracei uma árvore mas ela não me abraçou...
Conheci a Luz e a escuridão...
Habitei o Tempo e a Eternidade...
Fui Eu, não sendo Eu mesmo...
Apesar de tudo... e apesar de nada...
Procuro um Anjo na Terra!"

domingo, dezembro 07, 2008

Brumosa anunciação


Antes não havia nada. Nem luz, nem trevas, nem som, nem silêncio. Um nevoeiro, que era uma espécie de esquecimento, cobria tudo, que eu ainda não sabia que era tudo. Eu ignorava e na minha ignorância desconhecia a felicidade ou a tristeza. Ser era um fardo que eu não sabia que carregava. E então veio o amor... eu ainda não sabia que era o amor, só o descobriria muito mais tarde na lingua própria em que os poetas se fazem ouvir. Mas inicialmente eu não sabia que era o amor... Calculava que fosse alguma coisa sem nome. Sabia que era algo sem definição, algo que me guiava sem me conduzir, algo que me percorria sem me tocar, algo que não era eu mas também não era outra a pessoa... E então abri os braços e esperei que esse algo me tomasse, me conquistasse, me fulminasse.

domingo, novembro 30, 2008

[ Promessas não cumpridas... ]


" - Lembras ainda daqueles dias?
Perguntas tu no vazio da tua imaginação, quando ontem, olhavas as estrelas da meia noite que cintilavam por entre as nuvens da cidade branca ( como no teu poema...)
Somos tão iguais... e nem sabes quem sou... nem sabes quem és...
A noite não te sabe responder... apesar de olhares pela janela tentando reparar no teu reflexo, não te consegues ver... não te reconheces nos reflexos da noite... mas sabes que a habitas...
E de novo perguntas às estrelas...
- Onde estás? "
.

Olhei para trás


Olhei para trás. Sentara-me numa pedra à beira da estrada. Estava cansado da longa jornada. Tão cansado, que, ao olhar para trás, fiquei espontaneamente surpreendido com todo o caminho já percorrido. O ponto de partida perdia-se para lá dos incontáveis montes já torneados. Nunca acreditaria ser possível transpor tamanha distância apenas pelo meu próprio pé, e todavia...

E então olhei para a frente... Era tal e qual o caminho que via atrás de mim, só que invertido. Passaria perfeitamente pelo reflexo dum espelho mágico. Medi bem a distância ao percurso que me faltava percorrer. Era impossível saber se aquilo que me aguardava até ao fim da estrada era apenas um labirinto invertido do caminho já feito, ou se algo de novo me esperava para além da linha do horizonte.

A bem dizer, tinha duas opções, ou voltava para trás, caminho seguro e que já conhecia, ou seguia em frente, correndo o risco de ser surpreendido pela noite em campo aberto.

Espreguicei-me ainda sentado na pedra. Voltei a olhar para trás e de novo para frente. Poisei os olhos nas minhas botas. Estavam sujas pelo pó da estrada. Levantei-me e olhei mais uma vez para um lado e para o outro. Abandonei a estrada e embrenhei-me no meio do mato.

sexta-feira, novembro 28, 2008

Pedaços de Eternidade


" Cada dia carrega um momento de eternidade o qual habitamos sem saber... "

terça-feira, novembro 25, 2008

[ O Secreto Segredo do Teu Mar ]


" Numa manhã, num lugar secreto, num Tempo futuro... o silêncio do Oceano irá revelar-te, num murmúrio, o significado que carrega a palavra Amar... e aí compreenderás que as palavras que não foram ditas foram sempre as mais importantes... essas são as palavras da verdade que sempre negaste a ti mesmo... mas essas são também as palavras do verdadeiro amor... "

terça-feira, novembro 18, 2008

A Essência das Coisas


A essência das coisas não cabe dentro das próprias coisas... tentar capturar a essência das coisas seria um pouco como tentar guardar uma gaveta dentro duma outra gaveta rigorosamente igual... e, de qualquer forma, quem é que disse que uma gaveta é para guardar coisas? Porque é que eu não posso ter uma gaveta vazia na minha mesa de cabeceira reservada para a essência daquilo que eu julgo ser?

[ O Sentido das Palavras ]


" Agarras-te ao sentido das palavras para, miraculosamente, venceres mais um degrau da tua existência...
E olhas em redor...
Sem conseguir distinguir o vazio da realidade absurda em que vives e a ti próprio...
Vives suspenso na neblina da manhã da tua própria realidade...
Sabes que és a Noite e o Dia... o Sol e a Lua...
Mas também sabes que há um Amanhã que te pertence... "

domingo, novembro 16, 2008

[ A Melodia do Silêncio ]


" Hoje sentes mais do que nunca o vazio, aquele sentimento que tão bem conheces voltou a habitar o teu peito.
As cores da montanha que ecoavam os teus pensamentos mais secretos, silenciaram esta manhã, quando no teu vale entraste... que aconteceu? Onde estão os pássaros, os teus amigos? Os duendes que sempre te acompanhavam em criança hoje esconderam-se na secreta floresta onde tantas vezes sorriste enquanto falavas com as árvores...
O velho carvalho que abraçaste um dia, sorriu-te e tu nem deste por isso... mas é ao pé dele que te sentes bem, sabes isso quanto eu... cada ramo dessa árvore seguraria o teu coração como se do seu próprio fruto se tratasse, e tu precisas dela, agora mais do que nunca, amanhã mais do que nunca...
Enquanto fechavas os olhos e sonhavas... na montanha uma melodia ecoava pelo vale fazendo-te lembrar que nunca vais estar só, que aquela é a tua casa... "

sábado, novembro 15, 2008

Odisseia


Em tempos idos, seria absolutamente impraticável viver uma vida normal. Muito pelo contrário! Seria pouco menos que impossível escapar a todo um excitante mundo de aventuras... os poetas invocariam musas, o destino dos heróis decidir-se-ia em concorridas assembleias de deuses e as maravilhas e os prodígios suceder-se-iam ao ritmo dos minutos que nunca descansam.

Lamentavelmente, hoje tudo isto mudou. Não sobra nenhum recanto inexplorado deste planeta... Onde resta actualmente um lugar onde se possam esconder monstros, ciclopes, sereias e feiticeiras? E se houvesse, com certeza, existiria bem perto um hotel de luxo, um campo de golf e um Spa.

Ah!, que tristeza viver num mundo em que todas as estradas vão dar a Roma!!!

terça-feira, novembro 11, 2008

O dia que quando chegou já tinha passado


Cheguei atrasado ao teu sonho, apanhei apenas o rescaldo da festa. Tu havias já partido há muito. Havia ainda serpentinas pelo chão e mesas em desalinho. Um ou outro conviva, de copo na mão, alongava-se ainda na descrição de tudo o que eu tinha perdido. Confundiam-me repetidamente com outra pessoa. Estavam convencidos de que eu assistira às mesmas peripécias que não se cansavam de recordar desse teu memorável sonho. Ainda tentei explicar que não, não era eu, mas acabei por me conformar em ouvir o que tanto prazer encontravam em partilhar comigo uma vez mais ...embora tudo aquilo fosse novidade para mim. Ocorreu-me que andasse nesse preciso momento um sósia meu à solta pelo mundo. Com certeza fora esse duplo que estivera lado a lado contigo nesse teu sonho, a que eu, para não variar, chegara atrasado. Pensei em como fora oportuna a minha demora. Poucas coisas são mais perigosas do que conhecermos o nosso outro eu. Dificilmente um de nós poderia sobreviver a tão fatídico encontro. Talvez fosse este sósia que te conhecesse e não eu. Caso contrário, que interesse teria eu em aparecer no teu sonho, e, doutro modo, que sentido haveria em enviares-me um convite que eu não recordo de receber?

segunda-feira, novembro 10, 2008

[ A Côr das Palavras ]


" No momento em que nascem os poemas, as minhas palavras ganham a côr dos teus olhos, e... sonhando-te... viajo contigo lado a lado, na encruzilhada do Tempo...
Sinto o cheiro do imenso mar, vejo o sol reflectir um Cosmos onde os teus pensamentos se diluem... revendo um passado e um futuro...
A tua alma tem asas, os teus olhos sabem a mar e o teu coração bate no meu peito... "

quarta-feira, novembro 05, 2008

Cabeça de Vento


Serão mais felizes as cabeças cheias de vento?

Se o Nada nos correr pelas veias, haverá lugar para a dor no peso pluma do nosso corpo?

Porque será que as perguntas mais interessantes são precisamente aquelas para as quais sabemos que nunca encontraremos resposta?

terça-feira, novembro 04, 2008

[ À distância de um Oceano... ]


" Relembras os pedaços de eternidade que partilhaste,
Sonhas com um Mundo... onde o Tempo não passa...
onde a noite não existe, o dia nunca nasce... e onde um abraço é Eterno... "

sábado, novembro 01, 2008

[ De Volta ao Princípio do Mundo ]


Nada não é o Fim de Nada,
É o retorno ao Princípio de tudo...

E ao longe no Tempo,
Revejo os fantasmas que me abandonaram...

Fecho os olhos,
Gravito em volta da Luz...

Sou o viajante perdido no Tempo que volta...

sexta-feira, outubro 31, 2008

Anfitrião


Por vezes as coisas parecem tão obviamente reais que se torna absurda a sua por demais evidente irrealidade.

Assim como dentro dum sonho podemos sonhar que estamos a sonhar, também em certas ocasiões podemos na vida real ter a sensação de que assistimos à nossa própria vida como um espectador privilegiado.

Nada mais difícil do que ser designado o anfitrião numa inesperada visita guiada à nossa própria vida.

Mas ao fim e ao cabo todos temos de estar nalgum lugar nalgum determinado momento, certo?

quinta-feira, outubro 30, 2008

[ O Lugar Onde Te Imaginei... ]


"Tu e eu sabemos o lugar que nos pertence,
Lado a lado com os sonhos que, sofregamente partilhámos...
A Eternidade foi por nós vivida... silenciosamente...
Era este o lugar que te imaginei, lado a lado... "

terça-feira, outubro 28, 2008

Existir


...e os pássaros cantavam, os rios rumorejavam, os ramos das árvores assobiavam uma qualquer melodia ensaiada pelo seu maestro o vento e até as pedras (embora permanecendo na eterna imutabilidade do seu silêncio) pareciam felizes por conhecerem aquele dia.

domingo, outubro 26, 2008

A Mensageira...


" Se um dia voares até mim, conta-me a tua história... "
.

sábado, outubro 25, 2008

Um Tempo de Mar


É o Tempo,

É o teu Tempo,

Na imensidão que olhaste tantas vezes...

Vislumbras o exacto momento,

Em que um abraço de maresia,

Te levou ao coração do Mundo.



De novo tocaste um imenso Mar,

Onde a voz dos deuses se fazem ouvir...

E... tu sabes...

Um Tempo de Mar...

É o silêncio das palavras que não podem ser ditas...

domingo, outubro 19, 2008

Antes que anoiteça


Por vezes tenho a sensação de que tudo à minha volta está no seu devido lugar... arrumado e guardado exactamente onde era suposto estar.

Nem sempre me parece correcto o local onde encontro arquivadas algumas das histórias, episódios e pequenos nadas dos quais se fez o meu caminho.

Por outro lado, não consigo deixar de encontrar uma insólita justeza e poética ironia no destino final de algumas das minhas expectativas e esperanças.

Tudo é cíclico, embora nada se repita.

Nunca vi dois pôr do sol iguais, o que, a bem dizer, não é digno de grande espanto, já que eu sou o denominador comum entre todos os pôr do sol a que assisti.

A fúria do mar estará em eterna desvantagem perante a serenidade do Tempo.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Marítima sonolência


Longe de tudo, mais perto de mim.

Ainda assim, é difícil quebrar o transe do murmúrio do mar.

A hora é duma vaga e incerta melancolia... as vagas são elas próprias descompassadamente melancólicas e incertas.

Olhando a vila lá longe, onde a vida acontece, com os seus risos e atractivas luzes, não podia sentir-me menos grato pelo ermo e desamparado lugar onde me encontro.

Será que alguém sentiu a minha falta neste fim de tarde, princípio de noite?

Resta-me a solitária consolação de que pelo menos a fria maresia não se esquece de mim...

quarta-feira, outubro 08, 2008

A Voz Da Mente


"A voz da mente ecoa fora e dentro de nós... atravessa, cidades, oceanos, planetas... e algures dentro de nós mostra-nos a Luz do longínquo universo, de onde um dia partimos..."

domingo, outubro 05, 2008

O todo que cabe dentro do Todo


Não foi mais do que um breve momento. Estar num país estranho torna-nos também um pouco estrangeiros de nós próprios, o que explica a forma atarantada como eu cirandava pelas ruas. Eu parara no meio da rua para fotografar uma coisa qualquer, talvez um candeeiro ou um edíficio mais exótico. Inicialmente, não me apercebi da sua presença. Ela esperou que eu fizesse a fotografia e surgiu por detrás de mim. Olhou-me nos olhos e sorriu, esgueirando-se pela esquina mais próxima. Tão somente isto. E, porém, lembro-me tão bem do seu sorriso e do brilho nos seus olhos... Se não me engano enchiam por completo o todo que cabe dentro do Todo.

quarta-feira, outubro 01, 2008

O Despertar da Madrugada


" Todos aguardavam pela anunciada miragem que na primeira madrugada de Outono se materializava no horizonte...
Seria a visão que enganava os sentidos? Ou os sentidos que enganavam o que víamos?
Pouco importava se era uma coisa ou outra, todos nós ali estávamos de pedra e cal para assistir ao fenómeno do "Despertar da Madrugada" como chamaram os primeiros aldeões do vale de Syre.
Todos nos mantivémos em silêncio... quando de repente lá bem longe, o reflexo do sol ao ser reflectido nas nuvens deu à Terra uma côr púrpura a tudo quanto tocava... era essa a côr do "despertar da madrugada" como os antigos tinham chamado... era essa a côr dos deuses e o sinal que tudo estaria em Paz por mais Um Tempo..."

segunda-feira, setembro 29, 2008

A Estrutura


Permaneceram estáticos e incrédulos diante da Estrutura, incapazes de discernir o seu significado ou funcionalidade.

Era aquele por fim o destino final da sua longa jornada?

Fora por tão improvável monumento que se haviam abalançado a tão incríveis aventuras e pelo qual haviam vencido vales, montes e florestas?

Seria aquela efectivamente a única salvação possível para o mundo tal como o conheciam?

Talvez a Estrutura os olhasse com imperceptíveis olhos de pedra e se interrogasse de igual modo sobre o que significariam aqueles bizarros e estranhos seres diante de si.

quarta-feira, setembro 24, 2008

[ À Terra Prometida ]

" À Terra prometida se dirigiram as maiores caravanas de todos os Tempos... profetas e não profetas anunciaram uma nova esperança... falsa ou não, "...uma Nova Era aguarda-nos..." diziam, longe ou perto no Tempo, ninguém sabe... a promessa vagueia pela Humanidade...
Editaram-se livros, inventaram-se profecias, falsos reis e falsas esperanças rasgam a história dos homens numa sangrenta Humanidade onde todos aguardam a entrada triunfante numa Terra que ninguém sabe existir... mas que Todos habitam e renegam ao mesmo Tempo..."

segunda-feira, setembro 22, 2008

Aqui e além onde as coisas não têm nome



Despojei-me do meu nome,
abdiquei do meu orgulho,
escorracei todos os segredos do meu coração
e,
subitamente,
encontrei-me
aqui
e
além
onde as coisas não têm nome.

sábado, setembro 20, 2008

[ A Terra Sem Nome ]


" Existe uma Terra longe da Humanidade e que não tem nome porque não é de ninguém.

Lá só entram os esquecidos pelo Tempo, os que também não têm nome, porque são esses que não pertencem a ninguém... "

sexta-feira, setembro 19, 2008

Saudades do sol


Estive a ver a previsão metereológica. Aquilo que descobri não foi muito animador... Os metereologistas anunciam chuva para amanhã. Custa a acreditar, espreitando pela minha janela. Segundo as previsões, o mau tempo prolongar-se-à pelos próximos dez dias. Já sinto saudades do sol, embora ele ainda me escalde a pele.

Fiz mal em ler o jornal. Teria sido mais excitante ir acordando e ser surpreendido pelo som da chuva a cair do telhado. Talvez acreditasse estar a sonhar que acordava numa manhã de chuva e desse meia volta na cama, esperando que quando acordasse a sério não estivesse a chover.

Vivo numa época em que se conhece excessivamente o desconhecimento das coisas.

Resta-me o consolo de haver mistérios para os quais não se prevêm respostas tão cedo. A não ser que amanhã alguém venha apresentar provas indiscutíveis de vida em Marte, ou provas irrefutáveis da vida depois da morte...

Em má hora terei celebrado o aniversário que me pôs termo à idade das descobertas
.

domingo, setembro 14, 2008

Em busca da palavra Amar


" Há algum Tempo atrás procurei o significado da palavra Amar,
Não que eu soubesse, até ao dia que me foi desvendada, o que significava,
Nem tão pouco o seu significado me dizia alguma coisa...
Até ao dia em que, mesmo não sabendo o que significava, a encontrei...
O que encontrei era, para mim, maior que o próprio Universo que a criou,
Talvez fosse o próprio Universo o seu significado... talvez "

quinta-feira, setembro 11, 2008

Noite e Dia


Na noite dos meus dias as Palavras são um beijo cerimonial na Eternidade.

quarta-feira, setembro 10, 2008

As palavras dos dias passados


" As palavras dos dias passados passaram a ser imagens dos dias presentes onde, nalgum labirinto, ainda te procuro... "

sexta-feira, setembro 05, 2008

Um Sinal do Tempo


" É um Tempo onde as verdades estão guardadas nalgum Templo desconhecido, onde o Homem em nome de uma qualquer verdade aniquila a própria Vida que nele habita...
Sonhamos com os anjos que nunca nos virão resgatar da mentira que vivemos, do abismo em que teimamos existir... e... seria tão fácil estender uma mão que nos acompanhasse num Caminho onde não podemos desbravar sózinhos...
Há muito Tempo que os profetas aguardam as imagens que um dia viram gravadas nas lápides das cidades de outrora..."

sábado, agosto 30, 2008

O adorador do amanhã


O adorador do amanhã não morre
nas muitas mortes que morre a morte.
A todos os filhos do Medo acorre
sem ambicionar uma melhor sorte.

Gosta de cometer os mesmos velhos erros
sempre que se proporcione a oportunidade.
Para quê evitar um bom enterro,
se um cemitério é uma outra cidade?

Lapidares verdades?
A verdade é uma lápide.

quarta-feira, agosto 27, 2008

Desfile de marés


A personagem principal da minha vida não sou eu,
é o mar...
embora o navegue apenas com o olhar.

Deve ser por isso que exibo
uma fuga bronzeada no rosto.

terça-feira, agosto 26, 2008

[ O Chão Sagrado ]


" Sentes o brilho daquela Luz imensa a tocar-te bem fundo... aquele lugar irradia o secreto saber ancestral que em todos nós habita, mas que de algum modo adormece nalgum recanto dos sonhos que aguardam por nós...
Eu sou este lugar, eu sou aquele que caminha para a Luz... sou aquele a quem foi permitido andar no Chão Sagrado...

Eu serei o guardião da Verdade, da Luz e do Caminho... "

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