Nem tudo começa aqui e nem tudo acaba aqui

Uma viagem conduzida por:

sábado, agosto 30, 2008

O adorador do amanhã


O adorador do amanhã não morre
nas muitas mortes que morre a morte.
A todos os filhos do Medo acorre
sem ambicionar uma melhor sorte.

Gosta de cometer os mesmos velhos erros
sempre que se proporcione a oportunidade.
Para quê evitar um bom enterro,
se um cemitério é uma outra cidade?

Lapidares verdades?
A verdade é uma lápide.

quarta-feira, agosto 27, 2008

Desfile de marés


A personagem principal da minha vida não sou eu,
é o mar...
embora o navegue apenas com o olhar.

Deve ser por isso que exibo
uma fuga bronzeada no rosto.

terça-feira, agosto 26, 2008

[ O Chão Sagrado ]


" Sentes o brilho daquela Luz imensa a tocar-te bem fundo... aquele lugar irradia o secreto saber ancestral que em todos nós habita, mas que de algum modo adormece nalgum recanto dos sonhos que aguardam por nós...
Eu sou este lugar, eu sou aquele que caminha para a Luz... sou aquele a quem foi permitido andar no Chão Sagrado...

Eu serei o guardião da Verdade, da Luz e do Caminho... "

quinta-feira, agosto 21, 2008

O que será de nós quando deixarmos de ser?


O que será de nós quando deixarmos de ser?

Ainda nos puderemos encantar com o chilrear dos pássaros? Ainda nos deixaremos enlevar pelo rumorejar dum regato? Ainda ficaremos inebriados pelo perfume duma flor? Ainda seremos capazes de vislumbrar no mundo a beleza? Ainda seremos, por pouco que seja, um bocadinho daquilo que fomos?

Ah! Inimaginável deixar de ser o que somos!...

E teremos sido alguma vez?

quarta-feira, agosto 20, 2008


" Alguma voz lhe dizia que não estava só, naquele dia em que não falara com ninguém, quem poderia ser, senão a sua mente, a pregar-lhe aquela partida? Olhou para o banco ao seu lado... pessentiu que algo o olhava demoradamente... estaria louco? Os bancos estavam vazios de olhares, de gente e até de pássaros... só ele estava ali... ele e aqueles bancos... mas claro também aquele Tempo e espaço que ocupava... e... claro que sim... aquela folha...
De repente aquele espaço encheu-se para o espectáculo para o qual entrou a meio... aquele lugar era tudo menos vazio... por cima as árvores cantavam ao vento, o Cosmos cintilava para lá do azul onde nascem as estrelas e onde as folhas são desenhadas, por alguém, sentado num banco igual ao seu... de Pedra onde dormem as folhas..."

segunda-feira, agosto 11, 2008

Jorge Desce À Terra

Jorge não é o mais apressado a levantar-se nem o mais despachado a vestir-se e, definitivamente, não é o mais lesto a sair para a rua.

Não é para admirar... pois vive num sonho desperto e em adormecida vigília.

Jorge é um bom dador de Tempo, como outros o são de sangue - oferece o seu tempo a causas nobres e dignas, fazendo a prospecção de perguntas tão pertinentes como:

"Porque é que nos dias de hoje ética é a mesma coisa do que estética?"

"Porque é que choramos e donde nascem as lágrimas?"

"Porque é que se gaba o amor dos pais quando eles preferem a estabilidade dos filhos àquilo que realmente os faria felizes?"

"Porque é que a guerra é tão impopular quando historicamente sempre teve muito mais saída do que a paz?"

"Porque é que as mulheres se apaixonam através do coração embora depois amem com a cabeça?"

"Porque é que surgem rachas nas paredes duma casa nova?"

"Porque é que tanta gente confunde tão orgulhosamente a sua realidade com o real?"

"Porque é que..."

Sei lá!... tanta coisa que a mim me deixaria perplexo e siderado...

Mas não a Jorge. Nada o perturba ou inquieta. Ele não receia o legado das profundezas das angústias e das dúvidas de todos os homens... Os labirintos infinitos de túneis impossíveis recebem-no com os braços abertos do vento e ele deixa-se perder por entre as imprevistas galerias que mergulham fundo no ventre do lado escuro da sua imaginação.

Só uma coisa: não lhe falem em solidão.

Não, não lhe falem em solidão. A solidão é uma condição sine qua non para o sucesso da sua missão, o que não a torna necessariamente mais aprazível.

E assim continua Jorge a sua jornada pelas grandes questões do imaginário do homem!

Até fazer 50 anos de vida conta fazer o levantamento exaustivo de todas as inquietações da humanidade... das inquietações, pois as suas respostas e soluções terão de ficar a cargo de outro dador benévolo de tempo...

É claro que este estado de situação durou apenas até que alguém já avisado da irreprimível propensão de Jorge para deambulantes pensamentos clamou:

- Jorge, desce à terra!

E, na realidade, que melhor reparo se poderia fazer de modo a contrariar a errática natureza dos homens?

sexta-feira, agosto 01, 2008

Na boda entre Sua Majestade o Sol, o Rei do Dia, e Sua Realeza a Lua, a Princesa da Noite


Hoje não vou dizer aquela palavra…

Hoje não vou dizer aquela palavra que é Fogo e é Gelo.

Hoje não vou dizer aquela palavra que do dia faz noite e da noite faz dia.

Hoje não vou dizer aquela palavra em que o sonho adivinha a realidade e a realidade se torna digna dum sonho.

Hoje não vou dizer aquela palavra que tanto nos faz sentir o peso do mundo nos ombros como nos liberta tal qual uma pluma a dançar por entre as estrelas.

Hoje não vou dizer aquela palavra que é escuridão e é Luz.

Hoje não vou dizer aquela palavra que torna as certezas em incertezas e as incertezas em certezas.

Hoje não vou dizer aquela palavra que de alguma forma estranha e misteriosa faz sacrifício rimar com altruísmo.

Hoje não vou dizer aquela palavra que sem sair do mesmo lugar nos faz sentir tão longe e tão perto.

Hoje não vou dizer aquela palavra que confunde os sentidos e reescreve as sensações.

Hoje não vou dizer aquela palavra que alivia a dor do Ser através duma outra dor saborosamente maior.

Hoje não vou dizer aquela palavra onde a Felicidade tem um encontro marcado com cada um de nós.

Há coisas que parecem espantosamente mais simples depois de terem acontecido do que aquilo que nos teríamos atrevido a sonhar ou imaginar antes de terem acontecido.

Não, hoje não vou dizer essa palavra que tem alimentado o imaginário da humanidade e povoado as palavras dos poetas ...mas todos pensamos nela quando olhamos para vocês.

Arquivo do blogue