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Uma viagem conduzida por:

segunda-feira, agosto 11, 2008

Jorge Desce À Terra

Jorge não é o mais apressado a levantar-se nem o mais despachado a vestir-se e, definitivamente, não é o mais lesto a sair para a rua.

Não é para admirar... pois vive num sonho desperto e em adormecida vigília.

Jorge é um bom dador de Tempo, como outros o são de sangue - oferece o seu tempo a causas nobres e dignas, fazendo a prospecção de perguntas tão pertinentes como:

"Porque é que nos dias de hoje ética é a mesma coisa do que estética?"

"Porque é que choramos e donde nascem as lágrimas?"

"Porque é que se gaba o amor dos pais quando eles preferem a estabilidade dos filhos àquilo que realmente os faria felizes?"

"Porque é que a guerra é tão impopular quando historicamente sempre teve muito mais saída do que a paz?"

"Porque é que as mulheres se apaixonam através do coração embora depois amem com a cabeça?"

"Porque é que surgem rachas nas paredes duma casa nova?"

"Porque é que tanta gente confunde tão orgulhosamente a sua realidade com o real?"

"Porque é que..."

Sei lá!... tanta coisa que a mim me deixaria perplexo e siderado...

Mas não a Jorge. Nada o perturba ou inquieta. Ele não receia o legado das profundezas das angústias e das dúvidas de todos os homens... Os labirintos infinitos de túneis impossíveis recebem-no com os braços abertos do vento e ele deixa-se perder por entre as imprevistas galerias que mergulham fundo no ventre do lado escuro da sua imaginação.

Só uma coisa: não lhe falem em solidão.

Não, não lhe falem em solidão. A solidão é uma condição sine qua non para o sucesso da sua missão, o que não a torna necessariamente mais aprazível.

E assim continua Jorge a sua jornada pelas grandes questões do imaginário do homem!

Até fazer 50 anos de vida conta fazer o levantamento exaustivo de todas as inquietações da humanidade... das inquietações, pois as suas respostas e soluções terão de ficar a cargo de outro dador benévolo de tempo...

É claro que este estado de situação durou apenas até que alguém já avisado da irreprimível propensão de Jorge para deambulantes pensamentos clamou:

- Jorge, desce à terra!

E, na realidade, que melhor reparo se poderia fazer de modo a contrariar a errática natureza dos homens?

1 comentário:

Passageiro do Tempo disse...

.... E o Jorge desceu mesmo à Terra?

Gostei muito de ler este magnífico texto...

Abraço!!!

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