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quinta-feira, maio 07, 2009

O dia morre amanhã


Tarde na manhã, manhã que é quase tarde... o rio segue placidamente o seu caminho, indiferente ao espectador solitário que sou eu. De forma quase involuntária salto para margem e inclino-me para inspeccionar o leito do rio. O meu reflexo (ou uma versão distorcida do meu reflexo) intromete-se entre nós. Encontro-me comigo próprio, subitamente estranho e misterioso, na superfície do rio, como se não fosse eu, mas o meu pai, o meu avô ou bisavô. É um pouco como se todas as gerações do meu sangue me espiassem com um certo desdém e desgosto. Talvez me recriminem por daqui a alguns anos não estar o filho que não tenho a olhar para mim na superfície sem forma deste ou doutro rio. Mas o que lhe poderia ensinar eu para além da verdade de que o dia morre amanhã?

2 comentários:

Passageiro do Tempo disse...

Que belo texto, absolutamente fabuloso!!!!!

Um grande abraço!

Marisa Fernandes disse...

Esse filho de amanhã tem de trazer como cada um de nós uma esperança infinita. Que mais tarde ou mais cedo, se frustrará, em parte como acaba por suceder com tudo o que tem expectativas em excesso...

Não será?*

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