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terça-feira, junho 12, 2007

Um Tempo Só Meu


Hoje dia 12 de Junho de 2007 ficará na minha memória um acontecimento francamente estranho e ao mesmo tempo tão marcante na maneira como se deu.
Quem me conhece sabe da paixão e encantamento que as aves têm sobre mim, explicá-lo é impossível e completamente indescritível.
Apesar de já me ter deparado com situações insólitas esta foi muito forte.
Hoje, cerca das 9 horas da manhã nos Jardins da Gulbenkian em Lisboa, passei pelos caminhos (que são dezenas) cimentados e rodeados de plantas e árvores, quem conhece este Jardim sabe que há bastantes arbustos bem desenvolvidos havendo partes muito sombrias e densamente arborizadas.
Depois de ter estado sentado a observar um casal de melros a defender-se de uma garça que estava poisada num pinheiro e que tentava chegar ao ninho dos melros, resolvi entrar em caminhos que ainda não tinha percorrido, zonas muito fechadas. Ao desviar-me de um arbusto olhei para o chão e pareceu-me ver uma pequeníssima ave. Voltei atrás porque inexplicávelmente algo me fez crer que se tratava de uma ave bébé... a zona até servia de passagem para pessoas sendo muito movimentada, pensei pois que me tinha enganado... no entanto ao voltar atrás e olhando com mais atenção reparei num pequeno chapim azul bébé, deveria ter caído do ninho há minutos, estava assustado e com frio, tremia muito, nem sabia voar, as penas ainda eram curtíssimas.
Peguei nele rápidamente porque pensei que fugia, mas nada disso, deixou-se apanhar prontamente tal era o seu estado de choque... na mesma altura que peguei nele dois miúdos passaram de bicicleta tão rápidamente que um deles bateu-me no ombro e passou mesmo pelo local onde, minutos antes, tinha estado o pequeno chapim.
Aqueci-o na minha mão e procurei um ramo onde o pudesse colocar visto que com aquela idade ainda precisava de ser alimentado pelos pais. Demorei um pouco a procurar um arbusto longe do caminho e quando me preparava para o colocar num ramo reparei que a pequena ave tinha-se aninhado na minha mão (era pequeníssima, uns 4cm) estando a dormir com a cabeça debaixo da sua asinha. Sentei-me num banco perto e deixei-o descansar na minha mão deixando-lhe só a zona da cabeça de fora. Posso dizer que ainda demorei uns bons 15 minutos até que acordou. Prontamente a coloquei num ramo à altura máxima que pude e lá ficou. Começou de imediato a piar pelos pais querendo comer. Pouco tempo depois, eu estava a uns meros 40cm dele, quando apareceu o pai levando-lhe uma gorda lagarta que rápidamente engoliu sofregamente.
Para meu espanto o pai ficou a olhar para mim, raro nesta espécie, e a cerca de 40/30cm quase que, se levantasse a mão, lhe poderia tocar. A sensação para mim foi indescritível, absolutamente arrebatadora...
Deixei-me ficar no mesmo sítio durante mais algum tempo e observei novamente o pai a alimentar o seu filhote depois de uma breve saída sem qualquer receio de me ter por perto. Posso dizer que me senti um previligiado...
Não tem preço um momento destes...
Após certificar-me de que tudo estava tranquilo vim-me embora desejando boa sorte àquela pequena ave.

2 comentários:

A. M. Catarino disse...

um autêntico encontro imediato com a Vida ;-)

um grande abraço

Anónimo disse...

Um encontro imediato com o tempo... tempo em que os passarinhos eram gente ou que a gente eram passarinhos. Comovente este teu relato. Continua ser quem és.
OBRIGADO.
Sissi

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