Nem tudo começa aqui e nem tudo acaba aqui

Uma viagem conduzida por:

quinta-feira, agosto 30, 2007

Sombra colorida


Por muito que se esforçasse no contrário, era sempre defronte à fachada daquele prédio que acabavam os seus périplos nocturnos cidade fora.

Durante algum tempo acreditou que as cores que via nos diferentes apartamentos fossem um efeito colateral das suas insónias.

Procurou em vão o mesmo prédio à luz do dia, sem nunca o descobrir.

Até que uma noite um outro filho da madrugada passou por ele diante da fachada, abrandou o passo e comentou: "É curioso, parece um mosaico a marcar a posição de que nem a escuridão pode vencer as cores dos nossos sonhos... E ali também ninguém dorme."

Ele ficou atordoado pelo eco destas palavras misturado com o som dos sapatos do desconhecido afastando-se... apossara-se de si um medo mais antigo do que os próprios homens.

Não lhe chegara a ver o rosto, fascinado que estava com as sombras coloridas a executarem uma misteriosa coreografia do lado de lá do amarelo, do verde, do vermelho, do azul... desviou o olhar e ficou a ver aquela silhueta a perder-se na incógnita de mais uma esquina na cidade levemente submersa num estranho e fantasioso nevoeiro.

Todavia, aquela voz era-lhe estranhamente familiar... aquela silhueta não lhe era de todo desconhecida... como se do seu próprio pai ou do seu próprio irmão se tratasse... ou mais próximo ainda...

O desconhecido sabia mais do que ele acerca daquele intrigante edifício. Talvez o estranho fosse um deles... um daqueles que dançavam na cor do sonho...

De repente lembrou-se de onde conhecia aquela voz... Claro, como não se apercebera imediatamente!

Aquela era a sua voz! Mais madura é certo, mas era a sua voz.

Aquela era a sua silhueta! Talvez algo mais curvada pelos anos, sem dúvida, mas era a sua silhueta.

Sorriu e voltou a olhar para a fachada.

Sim, lá estava Ele-Eu num apartamento a ver televisão... A que programa assistiria? Uma série policial? Um reality show? Não, esperem... Ele sabia... Naquele aparelho passava a desoras o filme que contava a história dum homem parado diante da fachada dum certo e determinado prédio, travando um braço de ferro entre a escuridão e as sombras dos seus sonhos.

Encolheu os ombros, bocejando. Era a altura de regressar a casa.

Apercebia-se agora que um dia saberia as respostas para as dúvidas, questões e perguntas que hoje não o deixavam dormir.

segunda-feira, agosto 27, 2007

Anjos Na Noite



" - Os anjos da noite protegeram-te dos medos e lembranças que tinhas quando eras criança, hoje és livre, hoje não precisarás mais da minha protecção... tu és um de nós... hoje és tu que guardas da noite os pesadelos de outros, recordações em que a saudade não é bem vinda...
Hoje fazes parte do exército que, silencioso, marcha a caminho da Luz porque lá é o teu destino... lado a lado com os teus irmãos de batalha..."

sexta-feira, agosto 24, 2007

Um Dia


Um dia talvez outra vez...
quem sabe...
se sim...
ou não...
e quem sabe,
talvez saiba,
sem saber o porquê e a razão...

sábado, agosto 18, 2007

Os Adoradores do Sol


Só tinha uma certeza, fosse qual fosse o seu destino, tinha que seguir em frente... para onde? Com que missão?
Apesar de na sua mente se sentir desconfortável quando alguma destas perguntas imaginárias lhe ocorriam, algo maior que si próprio se sobrepunha, como uma verdade, uma absoluta verdade... este é o seu caminho, este era o caminho certo...
Parou e tentou vislumbrar por entre um nevoeiro denso, algo enigmático, prenúncio de um acontecimento que por momentos o atemorizava e ao mesmo tempo o deixava numa expectativa tranquilizadora, um local para descansar.
Após uns instantes levantou-se e seguiu, agora mais confiante, mais seguro de si mesmo, aquele seria o caminho certo.
O nevoeiro haveria de desaparecer nos minutos mais próximos, sentia a presença da luz do Sol, da presença de uma Luz muito maior...
Instantes depois as nuvens subiram, a cada passo que dava o caminho à sua frente abria-se, de tal modo que conseguiu ver, ao longe, sombras debruçadas sob um muro de onde uma Luz intensa rasgava os céus...
No exacto momento em que se juntou aos outros nada, na sua longa caminhada, o tinha preparado para o momento da chegada ao Templo dos Adoradores do Sol.
Foi então que compreendeu aquela imensa verdade que esteve sempre com ele, a verdade que sempre o fez caminhar, a verdade que o fez não desistir... essa sua verdade brilhava como aquela Luz...

sábado, agosto 11, 2007

Verdade Secreta...


Viajamos no Tempo, no nosso Tempo, à procura de uma qualquer Verdade, de uma qualquer sabedoria algures escondida num lugar secreto, no entanto essa Verdade está nos sonhos, essa Verdade sempre esteve connosco...
Um dia ao olharmos para o lado vislumbramos o momento certo, o momento em que um sinal é dado pelo próprio Universo... e esse sinal é para nós...
A Barca dos Sonhos sempre existiu no Universo que nos fez existir, está à nossa disposição, pronta a levar-nos numa imensa viagem em que o limite somos nós próprios.
Embarquemos então nos sonhos, naquela barca que há tanto Tempo acompanha a Humanidade na sua viagem.
O Sinal foi dado... porque esperamos então?

segunda-feira, agosto 06, 2007

Sagrada Caligrafia dos Dias


Desejei tirar um curso sobre a ancestral e sagrada arte da caligrafia dos dias... procurar por mestre um renomado artista da arte de lançar o olhar para além do momento.

Almejei aprender e desenvolver o meu conhecimento do alfabeto dos dias, a língua original dos segredos escondidos no rumorejar dos rios, no sopro do vento, no silêncio dos meus pensamentos...

Sonhei evoluir na expressão artística e gráfica dos elegantes movimentos da caligrafia que não desenham as palavras que escolho e desprezo sempre que minto um Eu que apresento ao mundo no baile de debutantes dos olhos da minha mãe, do meu pai, do meu irmão, da mulher que amo, dos meus amigos, dos meus colegas de trabalho, do pedinte que espera à saída do supermercado, do desconhecido com quem me cruzo fugazmente na rua.

Acreditei viver numa terra sem espelhos nem reflexos e que os meus olhos sendo parte da minha cara desconheciam por completo o meu rosto... e ainda assim não era segredo para mim quem eu era.

sábado, agosto 04, 2007

Pensamentos Ao Entardecer



Escreve na minha mente os teus pensamentos,

Eu os guardarei para sempre...

Não preciso de palavras, nunca precisei...

Adivinho-te o olhar, os teus olhos falam-me de ti...

quarta-feira, agosto 01, 2007

Realidade Irreal



Parei o carro naquela avenida e saí, no horizonte os Deuses do Olimpo pareciam acenar-me, aquele Tempo não era o meu Tempo, eu estava não estando ali.
Ao longe, a todo o momento, anjos poderiam surgir no horizonte anunciando alguma salvação, ouvindo, finalmente, as preces do mundo...
Seria este o lugar em que desembarcariam os Guerreiros da Luz? O lugar escolhido por magos e feiticeiros?
Imaginei tudo isso... perdi a noção do Tempo, do local onde estava e de toda a realidade(?) à minha volta... tinha passado mais de uma hora... que inquietante! Nem dei por isso, seria possível?
Por alguma razão olhei de novo para o horizonte e lembro-me de sorrir... e... do lado de lá... algo me sorriu também...

Gatrioskos



Era uma noite como outra qualquer. Ficara até mais tarde no trabalho e regressava a casa já pela noite dentro. O meu carro já tinha a obrigação de saber o caminho de cor e salteado, mas como aquela parte da estrada atravessava uma zona rural sem qualquer iluminação e nela mal caberiam dois carros que se cruzassem, mantinha-me alerta e vigilante.


De repento observo dois olhos a brilhar lá longe na berma esquerda. Galgados mais alguns metro os faróis iluminaram um gatinho branco, quase bebé ainda. Abrandei a velocidade. O animalzinho mirou-me desconfiado e saltou para dentro da vegetação, perdendo-se a sua alvura na escuridão da noite.

Sorri e prossegui o meu caminho. Não muitos quilómetros à frente, novo par de olhos brilhou na noite também na berma esquerda. Desta vez os faróis revelaram-me um gato branco ainda jovem, ligeiramente maior que o anterior.

Ainda que surpreso com a coincidência não abrandei.

Alguns metros antes do clarão que anunciava o regresso à estrada com as duas faixas perfeitamente demarcadas e bem iluminada, ainda um outro par de olhos brilhou algures na escuridão da berma esquerda. Engoli em seco ao perceber que se tratava de um enorme gato branco adulto. Escapuliu-se nas trevas assim que que sentiu o motor do carro a engasgar quando eu levantei o pé do acelerador.

Arranquei de novo sem deixar o carro imobilizar-se completamente e parei no cruzamento que me devolvia à estrada que em poucos minutos me colocaria em casa.

Que estranha coincidência fora aquela?

Como intitular o relato desta noite?

O Tempo dos 3 gatos?

O Gato dos 3 tempos?

Na realidade que garantia tinha eu de que esta história se passava numa única noite com a participação de 3 gatos brancos? E porque não aceitar que o gato fora só um e as noites se tinham prolongado por semanas? Não fazia eu aquele caminho todas as noites? Ou talvez tivesse sido apenas um gato numa única noite... Que sabia eu efectivamente do tempo para além daquilo que marcava o mostrador do meu relógio de pulso? Que data era a daquele dia, que idade tinha eu, quem era eu?

1 gato, 1 noite? 2 gatos, 2 noites? 3 gatos, 3 noites? 1 gato, 2 noites? 2 gatos, 1 noite? 3 gatos, 1 noite? 1 gato, 3 noites? 2 gatos, 3 noites? 3 gatos, 2 noites?

Mas mais que isso: seria de todo despropositado acreditar que esta história não se passara de dia e que os gatos fossem pretos?

Diria eu o que sabia ou saberia o que dizia?

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