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Uma viagem conduzida por:

quarta-feira, agosto 01, 2007

Gatrioskos



Era uma noite como outra qualquer. Ficara até mais tarde no trabalho e regressava a casa já pela noite dentro. O meu carro já tinha a obrigação de saber o caminho de cor e salteado, mas como aquela parte da estrada atravessava uma zona rural sem qualquer iluminação e nela mal caberiam dois carros que se cruzassem, mantinha-me alerta e vigilante.


De repento observo dois olhos a brilhar lá longe na berma esquerda. Galgados mais alguns metro os faróis iluminaram um gatinho branco, quase bebé ainda. Abrandei a velocidade. O animalzinho mirou-me desconfiado e saltou para dentro da vegetação, perdendo-se a sua alvura na escuridão da noite.

Sorri e prossegui o meu caminho. Não muitos quilómetros à frente, novo par de olhos brilhou na noite também na berma esquerda. Desta vez os faróis revelaram-me um gato branco ainda jovem, ligeiramente maior que o anterior.

Ainda que surpreso com a coincidência não abrandei.

Alguns metros antes do clarão que anunciava o regresso à estrada com as duas faixas perfeitamente demarcadas e bem iluminada, ainda um outro par de olhos brilhou algures na escuridão da berma esquerda. Engoli em seco ao perceber que se tratava de um enorme gato branco adulto. Escapuliu-se nas trevas assim que que sentiu o motor do carro a engasgar quando eu levantei o pé do acelerador.

Arranquei de novo sem deixar o carro imobilizar-se completamente e parei no cruzamento que me devolvia à estrada que em poucos minutos me colocaria em casa.

Que estranha coincidência fora aquela?

Como intitular o relato desta noite?

O Tempo dos 3 gatos?

O Gato dos 3 tempos?

Na realidade que garantia tinha eu de que esta história se passava numa única noite com a participação de 3 gatos brancos? E porque não aceitar que o gato fora só um e as noites se tinham prolongado por semanas? Não fazia eu aquele caminho todas as noites? Ou talvez tivesse sido apenas um gato numa única noite... Que sabia eu efectivamente do tempo para além daquilo que marcava o mostrador do meu relógio de pulso? Que data era a daquele dia, que idade tinha eu, quem era eu?

1 gato, 1 noite? 2 gatos, 2 noites? 3 gatos, 3 noites? 1 gato, 2 noites? 2 gatos, 1 noite? 3 gatos, 1 noite? 1 gato, 3 noites? 2 gatos, 3 noites? 3 gatos, 2 noites?

Mas mais que isso: seria de todo despropositado acreditar que esta história não se passara de dia e que os gatos fossem pretos?

Diria eu o que sabia ou saberia o que dizia?

1 comentário:

Passageiro do Tempo disse...

Há coisas que dão que pensar... o teu relato também me deixou surpreso... e... se os gatos afinal fossem brancos? Refiro-me a TODOS os gatos serem brancos... e naquela noite sómente tu soubesses essa verdade... se te fosse revelado essa verdade alguém acreditaria em ti, ou, alguém acreditaria em alguém em que a verdade seja revelada?
Uma coisa é certa... não há coincidências... eles estavam lá e tu também, assim como aquela pequena ave que apanhei, eu naquele dia tinha de lá estar...

Deslumbrante história!

Grande abraço meu amigo!

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