Nem tudo começa aqui e nem tudo acaba aqui

Uma viagem conduzida por:

terça-feira, setembro 11, 2007

Fascination street


Com tristeza ele voltou as costas e atravessou pesaroso a rua.

Na memória bailavam as imagens agora impossíveis duma outra despedida.

A mulher que então ficara para trás e a mulher que agora ficava para trás olhavam-se desconfiadamente, estudando-se mutuamente dentro seu olhar.

Eram ilusões da sua mente, e ele bem o sabia, mas, ainda assim, continuava sem fazer a miníma ideia do que pensavam uma e outra.

A verdade era relativamente simples: uma possuia o elemento-maravilha e a outra não... uma era instantaneamente desejável fazendo disparar-lhe o coração a mil à hora e a outra deixava-o perfeitamente indiferente e, por mais que apreciasse a sua companhia, que apreciava sem margem para dúvida, sem o mais leve traço de emoção... e que bom seria se ele pudesse amar a mulher de hoje como amara incondicionalmente a mulher de outrora!...

Triste era que a mulher de outrora, de quando voltara as costas e se afastara a passos largos desse outro lugar, sentira por ele exactamente o mesmo que ele sentia neste preciso momento pela mulher de agora, caminhando rapidamente através daquela rua que parecia nunca mais terminar, enquanto os olhos dela se cravavam pelas suas costas como dois punhais de fogo.

Ele experimentava ao mesmo tempo o corte frio e dilacerante dos dois gumes da faca da rejeição... perfurava-lhe a pele debaixo da pele da pele a lâmina ainda afiada do dia já longinquo em que fora rejeitado e também a lâmina incandescente do ainda mal acabado instante em que rejeitara da mesma forma que fora rejeitado...

"A rejeição é um adeus a nós próprios na voz doutra pessoa." Pensou ele quando finalmente dobrou a esquina.

2 comentários:

Passageiro do Tempo disse...

Um deslumbrante texto... um momento temporal que ocorre, afinal, a todos nós...

Grande abraço!!!!

Anónimo disse...

"A rejeição é um adeus a nós próprios na voz doutra pessoa." Pensou ele quando finalmente dobrou a esquina...."
Pegando um pouco no teu texto: quantos de nós não dissemos o adeus a nos próprios?.
Um texto sublime.
Abraço imenso
Sissi

Arquivo do blogue